Entrevistas realizadas em 09 e 12/11/2012 com a professora Sidinea - formada em Pedagogia em 1989, professora há vinte anos
e vice-diretora há três anos de uma escola estadual da cidade de Jundiaí - e com a professora Aline - formada em 2010 em Pedagogia, atua há quase dois anos na 1ª série do ensino fundamental de uma escola municipal da cidade de Jundiaí - respectivamente.
1-) Na sua concepção, qual a
crítica que você faz à escola tradicional e a Escola atual?
Profa Sidinea
A
escola tradicional era uma escola excludente, onde poucos tinham acesso e
conseguiam concluir o ensino fundamental, sem falar no médio, que era mesmo a
minoria e a classe mais privilegiada da sociedade que tinha acesso. A metodologia
utilizada se baseava no fato do professor ser o dono do conhecimento absoluto e
os alunos apenas absorviam esse conhecimento sem interagir com a realidade e o
mundo em que viviam.
A
escola nova permitiu o acesso a toda a classe social, tanto os pobres e mais
marginalizados da sociedade tem hoje a oportunidade de frequentar a escola
nova. O professor utiliza metodologia baseada na construção do conhecimento
pelo aluno, através da vivência do seu cotidiano e do mundo ao seu redor. A
critica é que muitos docentes ainda não estão preparados para a utilização
dessa metodologia, ficando assim, perdidos na sala de aula, misturando um pouco
das duas: tradicional e nova. O que também não é ruim desde que possa
aproveitar o que cada um oferece de positivo.
Profa Aline
A
escola tradicional contribuiu para alfabetização à sua época, pois quando foi
aplicado o tempo era outro, eram outras crianças, outra realidade, se fosse
aplicada hoje, acho que iria limitar muito o conhecimento das crianças, tendo
em vista que as crianças de hoje convivem com computadores, telefones
celulares, meios de comunicação avançados que não existiam na antigamente.
As
crianças de hoje em dia não necessitam mais de cartilhas, pois possuem o
conhecimento além do “bê a bá”, ensinar isso atualmente ficaria sem sentido
para o aluno, levando em consideração seu conhecimento prévio.
O
escolanivismo contribui para uma educação ativa e não mais passiva como vinha
sendo, e também para os índices de analfabetismo que diminuíram à época, mas
ainda assim existia uma separação entre as classes sociais, onde quem tinha
maior poder aquisitivo eram os que também conseguiam seus privilégios na
continuidade dos estudos.
Os
dois modelos de educação contribuem para a história da educação cada uma a sua
época, e com suas especificidades e necessidades.
2-)
Ainda há, na escola tradicional elementos positivos que poderiam ser
resgatados?
Profa Sidinea
Sim,
com certeza. O respeito pelo professor, à valorização da escola e a autoridade
do professor na sala de aula.
Profa Aline
Acredito
que em caso de crianças especiais ou com déficit de aprendizagem, seria
possível trabalhar com o método tradicional, embora eu não tenha tido essa
experiência.
3-)
Existe ainda em crianças da educação infantil o hábito de chamarem a professora
de “tia”. Você acha que isso ainda representa a desvalorização desta profissão?
Prof. Sidinea
Sim,
pois o aluno tem que aprender desde cedo que professor é professor e tia é tia,
nós estudamos para estar ali, educando o aluno e devemos ser respeitados e
valorizados como profissional importante na vida dele e na sociedade, pois o
professor é o profissional de que todos precisam, sem exceção.
Profa Aline
Na
educação infantil, a criança chamar de tia uma professora não interfere na
função e na intenção de aprendizagem, isso não muda em nada a didática do
profissional, por outro lado, acredito que partindo dos pais a iniciativa de
chamar de tia o educador, esses sim, não estão valorizando o trabalho dos
mesmos.
4-)
Para você, qual o significado da frase de Reboul: “Todo professor é professor
de moral, ainda que o ignore.”
Profa Sidinea
Nós
professores estamos criando pessoas para viver em sociedade, pessoas de
caráter, passamos tudo aquilo que aprendemos, os hábitos, costumes, a cultura e
a moral que pensamos ser o certo, adotados pela nossa sociedade. Vejo que hoje
em dia, o professor tem sido muito penalizado pela falta de respeito, pela
desvalorização da profissão, pela sociedade e isso deve ser resgatado, pois
todos os profissionais que temos hoje passaram pela escola.
Profa Aline
Acredito
que nem todos os professores reconhecem que moral se ensina na escola também,
infelizmente há muitos deles que ainda acreditam que moral, deve ser ensinado
em casa pela família, porém o simples fato de termos a moral interiorizada, já
estamos compartilhando com o aluno nossos saberes sobre o assunto sem nos dar conta
disso.
5-)
Quais dificuldades você enfrenta na atual estrutura escolar quando se fala em
criatividade?
Profa Sidinea
A
falta de vontade dos alunos em pensar e usar a criatividade, dar o melhor de si
em cada aula e no seu cotidiano. Os alunos não levam mais a sério a escola como
era antes, têm preguiça de pensar, estudar, ir atrás do que quer, pois hoje em
dia é muito fácil passar de ano, com a internet e as novas tecnologias
existentes o aluno encontra tudo muito rápido, fácil e pronto.
Profa Aline
A
minha maior dificuldade é o tempo para a preparação de algo mais criativo,
sempre penso em coisas criativas, aulas criativas, mas pela falta do tempo que
é exigido, e pelas metas que devemos cumprir, eu não consigo conciliar
criatividade com tempo.
CONTRAPONTOS DAS RESPOSTAS
Na
primeira questão, onde se aborda concepções e críticas aos dois tipos de
escola, a tradicional e a atual, as duas professoras concordam que a escola
tradicional excluía a maior parte da população, sendo assim, só a classe mais
privilegiada tinha acesso e apenas a minoria conseguia concluir o ensino médio,
mas discordam quando se fala na questão dois, que de alguma maneira estes
métodos ainda possam ser utilizados.
A
professora Aline acredita que estes métodos não tem sentido para as crianças
diante da tecnologia em que vivem no mundo de hoje. A professora Sidinea observa
que ainda existem docentes que trabalham com os dois métodos e que a escola
tradicional ainda nos traz a valorização e autoridade do professor dentro da
sala de aula.
Na
questão número três, onde se aborda o fato das crianças da educação infantil
chamarem os educadores de tia, a professora Aline ressalta que isto apenas
influencia quando os pais o fazem, ao contrário da professora Sidinea, pois
segundo ela, este valor deve ser ensinado desde cedo para que sejamos
reconhecidos pela criança que somos um profissional importantíssimo para a
sociedade, pois todos os profissionais que temos hoje passaram pela escola.
Na
questão numero quatro, as duas professoras concordam com a frase de Reboul:
“Todo professor é professor de moral, ainda que o ignore”, pois elas acreditam
que a moral também é passada na escola e não só dentro de casa através da
família, mais sim através do convívio com os alunos e pessoas no seu cotidiano
e principalmente com os professores, pois eles já têm a sua moral
interiorizada.
Na
questão cinco as principais dificuldades que a professora Aline enfrenta na
estrutura escolar quando se fala em criatividade é o tempo para a preparação de
aulas dinâmicas, práticas, isso é, aulas em que as crianças poderão usar e
expor as suas criatividades. Já para a professora Sidinea, as principais
dificuldades é a falta de vontade dos alunos, a preguiça de pensar, a falta de
interesse pela escola e pelo conteúdo dado pelos professores, pois para ela,
hoje em dia, com a internet e as novas tecnologias os alunos encontram tudo
muito rápido.
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